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Oficina dos Baixinhos* - Blog sobre o hobbie LEGO® de um AFOL (Adult Fan Of LEGO) português. Relatos das construções, técnicas, críticas, pensamentos e afins sobre LEGO em Portugal e no mundo. *Antiga LegOficina
Claro que é uma empresa europeia. É detida por uma família danesa e o seu quartel general fica mais ou menos no centro da Jutlândia, uma região realmente plana da Dinamarca.
No entanto o título é mesmo para chamar a atenção para um sentimento que me anda a incomodar há já algum tempo e que dois acontecimentos recentes o fez ainda mais notável aqui no meu cérebro. O anúncio do lançamento do tema Monkie Kid (yeah, hoje não me enganei) em Maio passado e a recente retirada do mercado do 42113 Bell-Boeing V-22 Osprey.
Mas antes de me lançar na catarse deste sentimento que me incomoda vai aqui uma pequena declaração já que este tema pode, de alguma forma, levar a outros mais polémicos e polarizadores. Não é de todo minha intenção exacerbar nacionalismos nem, pelo outro lado, defender globalizações. A minha posição é sempre prudente quanto as estes temas, a globalização será com o tempo inevitável no entanto não acho que deva apagar do mapa qualquer das culturas civilizacionais que existem no mundo. Basicamente, nem 8 nem 80.
Portanto espero que este artigo não leve para questões que não interessam a este blog já que neste local a única política (comercial?) que interessa é mesmo a da empresa LEGO.
Voltando aos acontecimentos recentes que me fizeram abordar este tema. O lançamento do Monkie Kid apanhou-me algo de surpresa e apesar de ser um tema que me passa completamente ao lado, o tema em si fez-me levantar as antenas. Não ponho em causa a estratégia comercial da LEGO em criar um tema com o propósito de agradar o público de um mercado em que quer crescer. Já o fez (ou acham que o Star Wars e a senda de temas licenciados era para agradar quem?) e com certeza voltará a fazê-lo quando for necessário. Yah, se calhar até me despertaria mais interesse um tema para agradar povos indianos, africanos ou mesmo até centro e sul-americanos, do que propriamente uma mitologia (?) chinesa que nunca ouvi falar. Portanto o que me incomodou não foi o aparecimento de um tema claramente para agradar o mercado chinês. O que me incomoda é não aparecer um tema que seja marcadamente para agradar o mercado europeu. Ok, claro que aqui poderão começar a reclamar que existe o City e Friends que são temas claramente ocidentais, ao qual eu respondo: Ocidentais, não europeus já que existem várias características de ambos que os puxam mais para o outro lado do Atlântico que outra coisa. No City a agressividade do conflito polícias vs ladrões é cada vez maior e segue em linha com a visão geral do que é (ou deve ser) uma força de segurança pública nos EUA e não na Europa.
As personagens do Friends são claramente o ideal feminino norte-americano e não europeu. Se acham que estou a exagerar, vejam um ou dois episódios de uma qualquer série juvenil da Disney (sim, aquelas dobradas) para verem do que é que estou a falar. Poderão também começar reclamar que os temas clássicos são europeus e eu digo, pois.. City tornou-se no que falei acima; Space quando era declaradamente de exploração, talvez sim já que remetia claramente a uma determina série de ficção científica britanica dos anos 70, mas chegando aos anos 90s as coisas ficaram claramente americanizadas; Castle, sim, claramente europeu, mas onde ele está? Aconteceu o mesmo com o meu querido Adventurers que até roçava numa característica bem europeia, o colonialismo (ok, agora devo ter exagerado :D); Pirates.. ahh, apesar de ser povoado principalmente por europeus (errr, algo colonizadores), anda às voltas nas Caraíbas que, exacto, é bastante próximo (e grande local de férias) dos norte-americanos; Western, ops, este nem vale a pena falar :D. Ah, e o pessoal lembra-se agora das coisas para adultos, o que é agora o 18+ e a linha Architecture. Aqui já temos coisitas que andam à volta do mundo todo...
Todo não que a África e América a sul do muro do Trump continuam a ser monumentalmente ignoradas. Além de que o que interessa para este artigo são os temas correntes e não os dedicados a nichos (sim, apesar do agradável alarido do 18+, os AFOLs não são a parte mais importante do negócio da LEGO). Esses temas, os correntes, interessam mais para este artigo porque são esses mesmos que podem ajudar a moldar uma criança, os seus valores e a sua identidade. Sim, eu sei, no meio de tantos outros estímulos.
Assim chego à segunda novidade que me fez levantar as antenas e que no fundo é um pequeno intervalo do tema principal deste artigo. A retirada do mercado do Osprey que apanhou toda a gente desprevenida, incluindo a equipa que o criou :).
Esta retirada deve-se à regra in-house que a LEGO tem em que diz qualquer coisa como não comercializar produtos com armamento actual. Antes de reclamarem com as pistolas Star Wars ou, bem pior, em conjuntos Batman ou outra ainda outras, devo dizer que a LEGO não considera os temas de fantasia e licenciados como “actuais”. Eu sei, é incongruente. Mas a LEGO é uma empresa, e não um estado, e as regras que ela decide para ela mesma só a ela lhe diz respeito. Os clientes que não gostam destas incongruências tem a melhor arma do mundo para mostrarem o seu desprezo. Não comprarem produtos à empresa.
Mas o que me levou a levantar as antenas não foram estas incongruências mas sim que eu sou mesmo a favor que a LEGO tenha este género de atitude (não vou dizer regra que parece um pouco mal de tão quebrada que é). Além de ganhar dinheiro uma empresa pode ter os seus valores e pode tentar transmiti-los. Então quando são valores que eu considero nobres, é ouro sobre azul. Tanto a Dinamarca como o seu mercado internacional inicial (uma boa parte da Europa) foi palco de demasiadas guerras e parece-me positivo pelo menos não vender algum tipo de representação de armamento mais realista. Não há um completo banimento (o que até seria contra-producente), mas também não há um achincalhar de uma memória ainda activa e que penso que não deve ser esquecida.
Posto este aparte, só devo referir que abordo este assunto para mostrar que a LEGO é capaz de fazer prevalecer alguns dos seus valores em detrimento de um lucro fácil
Portanto custa-me cada vez mais que a LEGO não abrace temas claramente europeus para as suas linhas correntes. Temas que, culturalmente, estivessem próximos da nossa realidade europeia e que, de alguma forma, promovesse não só a nossa rica história, como também a nossa própria identidade e os valores que, ao longo dos tempos, espalhamos pelo mundo e que ajudaram a moldá-lo. Eu sei que posso estar a parecer demasiado “continentalista”, mas não estou a dizer que a LEGO deva deixar de fazer temas como o NinjaGo, Monkie Kid, Star Wars, Friends entre outros. Estou a dizer é que sinto falta de algo mais Europeu. É que não faltam temáticas, por norma históricas, de grande qualidade e com material para potenciar conjuntos durante anos (e sem estar sempre a repetirem-se continuamente como certos temas mostrando que já estão esgotados há muito..). Propositadamente sem imagens, posso falar da Grécia antiga que tem tanto na sua cultura como na sua mitologia que daria pano para as mangas de todo o exército chinês. Também falo da Roma antiga, com ou sem os gauleses bêbados de poção mágica, que é um período histórico incontornável e que, fruto de tantas séries e filmes, está na memória colectiva mundial. A idade média que já foi palco de vários temas LEGO, porque não mais um, mas desta vez pensado com profundidade para durar vários anos e não um one-shot anual. Sim, eu sei que no geral a idade média é pobreza e feudalismo, mas há sempre forma de aligeirar isso, nem que seja com as lendas arturianas. Falo também doutras épocas como o renascimento ou a revolução industrial, períodos históricos ricos não só de personagens como são bastante conhecidos nos países onde principiaram. Não, não me vou esquecer dos descobrimentos que é uma era que interessa não só aos portugueses como também aos espanhóis, italianos, franceses, ingleses, holandeses e por aí a fora. Período que não se deve esgotar ou confundir com o genérico Pirates! Antes de dizer que com certeza haverão outros temas europeus interessantes, não devo de deixar de referir os Vikings, uma das maiores falhas no portfólio da LEGO (yah, eu sei que há uns quinze anos tivemos uns poucos, mas foi um tema muito mal explorado).
Eu sei que posso estar a parecer demasiado demagogo ou até idealista, mas não me parece ser uma iniciativa assim tão difícil. A LEGO lança vários temas por ano, alguns tão “esquecíveis” que já se sabe que são para durar um ou dois anos. Não me peçam para enunciá-los porque já me esqueci deles :). Acredito mesmo que se a LEGO investisse num tema mais europeu, o sucesso seria igual ou maior que esses temas efémeros. Além de que nesta altura (e nos tempos futuros) acho que estamos todos a precisar que a identidade europeia seja promovida. Principalmente entre as próprias crianças europeias.
Ps. Ah, já agora, quando forem a uma papelaria comparem as temáticas gerais das revistas da LEGO e da Playmobil.
PPs. Ia ilustrar este artigo com algumas fotos deste projecto. Não o consegui fazer porque as imagens estão hospedadas num url sem https, no entanto fica aqui o link.
Este MOC do The Brick Artisan vai buscar muito às linhas dos primeiros sets Space mas enchendo todos os espacinhos com greeblies e técnicas ousadas como é habitual nos tempos actuais. Só de pensar que esta construção começou com aquela peça de radar... que está encostada à superfície...
Yahh, devem ter também reparado a origem da fotografia de fundo. Pronto, agora tentem ignorar o filme e valorizem as sombras e a própria orientação da iluminação no MOC.