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Os temas das revistas LEGO

por baixinho, em 16.09.20

Quando os primeiros números da revista Star Wars começaram a aparecer nas papelarias portuguesas era um comprador assíduo. Apesar de cada vez menos gostar das revistas em si, os pequenos sets LEGO eram deveras interessantes. Com o tempo o interesse foi diminuindo (talvez porque começaram a sair cada vez mais minifigs, o que não são propriamente do meu interesse) e acabei por deixar de as comprar. Altura que coincidiu mais ou menos com o aparecimentos de outros títulos como Friends, NinjaGo, City entre outros.

Nos últimos meses o meu filho Artur (5 anos) começou a interessar-se pelas revistas, primeiro porque eu dei-lhe as de Star Wars que tinha para, inicialmente, fazer recortes e  mais tarde para lhe lerem as histórias e fazer algumas das actividades. Segundo o factor Netflix deu-lhe um grande impulso no interesse no tema NinjaGo.

Logo foi praticamente inevitável ele gastar algumas das suas economias em duas revistas NinjaGo.

Se no início achava algo muito próximo do desperdício, a verdade é que o dinheiro gasto nas revistas até foi bem aproveitado. As minifigs que sairam em ambas já serviram (e continuam a servir) para mil e uma aventuras além de que já foram desfeitas e refeitas em conjunto com outras um bom par de vezes. Além disso as próprias revistas já foram lidas, relidas e praticamente todas as actividades realizadas, já que algumas são demasiado complexas para o petiz.

No entanto há qualquer coisa nas revistas que não me faz sentir confortável.

Não demorei muito para descobrir a causa deste desconforto. Ou melhor, as causas já que é um conjunto de vários factores que tornam as revistas algo pior do que aparentemente são.

Não, não vou começar pelo preço já que não me parece que seja demasiado alto para o conjunto revista/oferta LEGO. O primeiro factor que me incomoda são mesmo os temas. Star Wars, NinjaGo, Batman, Nexo Knights, Jurassic Park e até os insuspeitos City e Friends. Os primeiros são de conteúdos sem profundidade, irrelevantes e que, por cima, não tem uma regularidade e continuidade assegurada já que dependem dos temas da própria LEGO. Os segundos apesar de genéricos são tratados também de forma tão ligeira (e arrisco dizer, americana) que se tornam praticamente inúteis em termos de formação de uma criança. Ou seja, nenhum destes títulos podem ser considerados interessantes em termos de estruturação de valores e aprendizagens para os mais novos. São temas de ler, fazer e deitar forma.

Claro que podem dizer que é o que vende, mas se a LEGO se mostra preocupada, e bem, com o futuro como vemos na questão da sustentabilidade abordada ontem, parece-me que é uma oportunidade desperdiçada os conteúdos destas revistas. Principalmente sabendo da existência ou conhecendo outras séries de revistas/livros em que os conteúdos são muito mais interessantes e pertinentes. Não, não vou exemplificar com a Playmobil (que continua a ser um brinquedo para crianças muito mais interessante em termos de temas abordados) mas sim com uma série de livros de animais que o Artur teve há uns anos atrás e que regularmente voltam a estar disponíveis nas papelarias. São cerca de 60 números onde cada livro trata de uma espécie animal de forma infantil, com histórias e curiosidades mas ao mesmo tempo com cuidado científico. Cada livro também trazia dois animais (o abordado no livro e outro) em plástico com uma boa dimensão. Apesar do Artur já pouco brincar com animais ainda "lê" os livros regularmente. Mas o melhor de tudo é que já os consultou algumas vezes quando surgiram dúvidas quanto aos animais.

Portanto não é difícil de perceber que olhando para estes livros fico com alguma pena que o Artur ande tanto à volta das revistas LEGO já que estão próximas do lixo em termos de relevância para aquilo que eu quero que o meu filho se torne.

Este é o ponto mais importante, mas não é o único que me incomoda. Outro é a questão que não se sabe (e provavelmente nem a editora) a continuidade das revistas. Uma pessoa começa uma e simplesmente não sabe se vai durar dois números ou trinta. Mais um ponto para o descartável e não para a proclamada economia circular que a LEGO deseja dar aos seus produtos.

Falei acima dos temas, mas além dos temas a forma como eles são tratados também é péssima. As histórias são sempre frenéticas, sem tempo de ponderação e sem qualquer profundidade. Parece que foram criadas para miúdos que bebem coca-cola de manhã a noite e ainda estou para perceber como há pais que se queixam da pretensa hiper-actividade dos filhos mas continuam a contribuir com brinquedos que estimulam isso ainda mais. Logo a LEGO que é acima de tudo um brinquedo de construção, onde características de valor como a paciência, perseverança, criatividade etc deveriam ser estimuladas, são descartadas em prol de histórias de "acção". Muita "acção".

Portanto é interessante verificar que em vez de ficar feliz com o interesse do Artur pelas revistas LEGO, que são uma faceta do meu adorado hobby, fico preocupado.

ps. quando escrevi este artigo, no domingo passado, ainda não conhecia a existência desta revista que tem mesmo aspecto de satisfazer parte das preocupações! :)

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publicado às 13:00


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